in trappola
ART = EMO
por Paulo Morais-Alexandre*
Even though sociology is a science of man, even though it cannot come into existence without the help of what is schematically called science, nonetheless, because of a series of positivistic hesitations, it assumes a polemical attitude with respect to art: art has no value, has no social purpose, is useless, is in no way a means of revolution, only science can be revolutionary. But from where I stand, I affirm that only art can be revolutionary, and especially so when one manages to liberate the concept of art from its traditional technical meanings by passing from the zone of art to anti-art, to the gesture and to the action, in order to put it at man's complete disposition. Which is to say ART = LIFE, ART = MAN. The only revolutionary means is a global concept of art that also gives birth to a new concept of science
Joseph Beuys - We Are the Revolution, 1971
Joseph Beuys - We Are the Revolution, 1971
Estabeleceu Joseph Beuys que se a Arte corresponde à vida, de igual forma a Arte será o Homem e de tal poucos serão os que se atreverão a duvidar. No caso das propostas de Teresa Canto Noronha o postulado pode ser um pouco mais expandido e dizer-se que a sua Arte é igual à Emoção. As obras que a Escultora expõe funcionam como conceitos e, ao contrário do que havia sido feito em ocasiões anteriores, não são autobiográficas, mas também não deixam de o ser, retratam no fundo as pessoas com que nos confrontamos diariamente, com quem estabelecemos relações, indivíduos por vezes tão alheados da realidade que não sabem que as relações são biunívocas, já que as crêem meramente unidireccionais, claro que sempre voltadas para si.
As peças expostas são despretenciosamente numeradas de 1 a 5 e de forma plástica retratam as várias categorias de pessoas emocionalmente indisponíveis.
A primeira refere todas aquelas que não conseguem receber, sendo estabelecido um confronto entre a fria placa de metal não permeável que impede qualquer tentativa de cumplicidade e a placa de madeira permeável ao fluxo/dádiva.
A segunda remete para as pessoas cuja tentativa de dádiva resulta estéril, já que tudo o que pretendem dar é frio, qual colmeia de favos metálicos, improdutiva.
A terceira é relativa aos que nunca são capazes de se expor, que se refugiam por detrás do espelho / biombo que os resguarda dos olhares, cabendo nesta categoria todos os espíritos reservados e desconfiados, todos aqueles com quem a intimidade é uma miragem.
A quarta estabelece a alegoria dos que jamais se entregam, de todos quantos travam o movimento, mesmo na situação mais improvável, qual bola que não consegue vencer uma inércia óbvia, por medo, por incapacidade de entrega.
A quinta e última escultura é alusiva a todos com os quais o equilíbrio se torna praticamente impossível, da mesma forma que os dois baloiços não parecem possibilitar um movimento coordenado que os faça funcionar na perfeição, ficando retratados os muitos seres com que, apesar de muitas tentativas, não nos conseguimos coordenar.
Importa deixar registado que as peças são intencionalmente rudes, intencionalmente toscas, intencionalmente imperfeitas, porque espelham as imperfeições humanas, as nossas imperfeições felizmente demasiado humanas.
Que bela parábola do mundo das relações malogradas, que nos leva a que tantas vezes apeteça repetir, tal como o disse o tal Pessoa num “Soneto já antigo”, «Raios partam a vida e quem lá ande!». Não se pense no entanto que se está perante uma manifestação do pessimismo da autora, que o não é! As esculturas não podem ser entendidas como evidências de um destino infeliz ou do amor impossível como nas óperas de Wagner. Estas peças representam, através da modelação da forma, plasticamente, de uma forma emocionante, um percurso labiríntico de vida onde, há efectivamente escolhos, mas onde há também a certeza que, no fim, não para todos obviamente, se alcançará a redenção, a redenção da dádiva, a redenção que somos nós.
As peças expostas são despretenciosamente numeradas de 1 a 5 e de forma plástica retratam as várias categorias de pessoas emocionalmente indisponíveis.
A primeira refere todas aquelas que não conseguem receber, sendo estabelecido um confronto entre a fria placa de metal não permeável que impede qualquer tentativa de cumplicidade e a placa de madeira permeável ao fluxo/dádiva.
A segunda remete para as pessoas cuja tentativa de dádiva resulta estéril, já que tudo o que pretendem dar é frio, qual colmeia de favos metálicos, improdutiva.
A terceira é relativa aos que nunca são capazes de se expor, que se refugiam por detrás do espelho / biombo que os resguarda dos olhares, cabendo nesta categoria todos os espíritos reservados e desconfiados, todos aqueles com quem a intimidade é uma miragem.
A quarta estabelece a alegoria dos que jamais se entregam, de todos quantos travam o movimento, mesmo na situação mais improvável, qual bola que não consegue vencer uma inércia óbvia, por medo, por incapacidade de entrega.
A quinta e última escultura é alusiva a todos com os quais o equilíbrio se torna praticamente impossível, da mesma forma que os dois baloiços não parecem possibilitar um movimento coordenado que os faça funcionar na perfeição, ficando retratados os muitos seres com que, apesar de muitas tentativas, não nos conseguimos coordenar.
Importa deixar registado que as peças são intencionalmente rudes, intencionalmente toscas, intencionalmente imperfeitas, porque espelham as imperfeições humanas, as nossas imperfeições felizmente demasiado humanas.
Que bela parábola do mundo das relações malogradas, que nos leva a que tantas vezes apeteça repetir, tal como o disse o tal Pessoa num “Soneto já antigo”, «Raios partam a vida e quem lá ande!». Não se pense no entanto que se está perante uma manifestação do pessimismo da autora, que o não é! As esculturas não podem ser entendidas como evidências de um destino infeliz ou do amor impossível como nas óperas de Wagner. Estas peças representam, através da modelação da forma, plasticamente, de uma forma emocionante, um percurso labiríntico de vida onde, há efectivamente escolhos, mas onde há também a certeza que, no fim, não para todos obviamente, se alcançará a redenção, a redenção da dádiva, a redenção que somos nós.
* Professor do Ensino Superior. Regente das cadeiras “Problemas da Arte Contemporânea” e “História da Arte” na Escola Superior de Teatro e Cinema. Doutor em Letras, especialidade de História da Arte pela Universidade de Coimbra. Investigador do CIAC - Centro de Investigação em Artes e Comunicação, Escola Superior de Teatro e Cinema/Universidade do Algarve.